segunda-feira, 26 de março de 2012

Devaneios


No inicio havia o nada. E também que mais podia haver que o nada? As pessoas esperam muita coisa do tudo, mas de nada é o nada que esperam. E daí não haver nada. Afinal o nada não podia defraudar as expectativas das pessoas.
Mas de repente do nada surgiu algo. Uns dirão que foi uma explosão que ocorreu sabe-se lá bem como e porquê, outros afirmam que foi um senhor de barbas brancas que surgiu. Na verdade, para nós o nada passou a tudo de uma forma mais elegante. Com um espirro.
Sim, nós os da Ordem da Sagrada Narina Direita, defendemos com unhas, dentes e narizes que foi esse espirro espacial que fez respingar a vida e o tudo que a rodeia (inclusive as coisas aborrecidas. Especialmente as coisas aborrecidas. Na verdade, tudo se resume às coisas aborrecidas).
A nossa ordem surgiu nos meados do ano 1042 após o primeiro resfriado, quando o Santo Santinho e o seu irmão (Aquele-que-não-deve-ser-cheirado) olhavam para o céu em busca de respostas, sendo que à sua frente eis que surge algo que jamais em tempo algum alguém estaria à espera. Um enorme e rosado nariz estava à sua frente, imóvel. Era do tamanho de uma casa, e encontrava-se em tão bom estado e imaculado que poderíamos dizer que se assoava só em panos de seda e aparava os pelos com as melhor pedras-pomes do mundo.
- Santinho! – fungou. – Aceitas-me como teu criador e único nariz?
E Santinho desmaiou 3 vezes, e 3 vezes foram as vezes que se levantou e olhou para o magnífico Nariz. Mas à terceira vez que ele se levantou, o Nariz disse:
- Nada temas! As minhas narinas estão limpas e estou sem doenças infecciosas. Vim em paz.
E o Nariz explicou-lhes a criação. E os mandamentos da Ordem Sagrada do Nariz. E no final ele avisou:
- Um de vocês irá trair-me, o outro vai seguir-me de forma correcta. E o que está errado nunca saberá que o está e nunca assim lhe será dito até que ao morrer se encontre comigo e pague pelos pecados da sua ignorância, assim como os seus seguidores.
Numa última fungadela, desapareceu para sempre, deixando os dois irmãos sozinhos. Cada um foi para o seu lado, um para o esquerdo e outro para o direito, nunca mais se voltando a ver.
O Santo Santinho encontrou uma montanha verdejante e aí construiu a Ordem da Sagrada Narina Direita, enquanto que o seu irmão (Aquele-que-não-deve-ser-cheirado), construiu num lugareco qualquer a Ordem Sagrada da Narina Esquerda.
Obviamente, (eu sei porque me contaram) nós estamos certos e eles errados, e que neles se abata o derradeiro destino, uma existência sem narizes, para aprenderem.
 Oh, só de pensar nisso, as minhas narinas tremem. Imaginem, não sentir o cheiro suave dos campos, ou mesmo o aroma quente do fogo. Diria talvez que é um destino terrível para eles, mas terroristas morais que são, nem merecem isso.
Sem falar da Ordem do Bem Assoado, uma igreja “New Age” que surgiu há uns 20 anos atrás e que tenta promover a igualdade entre ordens e crentes e não crentes.
Sabem o que eu digo a essa gente? Sabem? VERGONHA!
Quem são vocês para negar os ensinamentos antigos? Quem são vocês para interrogar, questionar, tentar perceber aquilo que foi escrito há milhares de anos atrás? Precisam de provas? Ora provem que aquilo nunca aconteceu! Ah, não se sentem tão espertos agora, pois não? É muito bonito dizerem coisas dessas “Não quero tapar o meu nariz às segundas só porque diz a sagrada escritura!”, mas quando é para falarem de coisas concretas como provar a não existência de um nariz gigante, vai tudo com o nariz entre as pernas e cala-se bem caladinnho. Ou então resmunga um “Não é possível não provar”.
Então se não é possível não provar esteja mas é calado! Já foi tarde esse seu discurso! Devia ter vergonha de ser tão ranhoso.
Para todos os meus irmãos da Ordem da Narina Direita, uma boa fungadela. Para os outros, espero que o vosso nariz seja retirado com brasas a ferver.
Atenciosamente,
Santo Fungo da Ordem da Narina Direita